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Silêncios que Falam: Clarice e Bergman na Fronteira do Eu

  • Foto do escritor: Jenyffer Kuhsler
    Jenyffer Kuhsler
  • 7 de ago.
  • 1 min de leitura

Atualizado: 10 de ago.

Clarice escreve Ângela como Bergman retrata Alma. Ambas invenções nascidas do silêncio, esse lugar onde o eu fragmenta. Um grita, outro cala. Um atua, outro não.


Em Persona, Elizabeth, a atriz que cala, e Alma, a enfermeira que fala, se fundem e se rasgam, numa coreografia preto e branco entre o desejo de ser e o pavor de deixar de ser.


Em Um sopro de vida, Clarice escreve de sua onipotência como autor, “Vejo tudo, ouço tudo, sinto tudo. E me mantenho fora de ambientes intelectualizados que me confundiriam” e complementa: “Sou sozinho no mundo. Ângela é a minha companheira única. É preciso que me compreendam: eu tive que inventar um ser que fosse todo meu. Acontece, porém, que ela está ganhando força demais.“


Como Ângela, Alma surge da urgência de dar forma ao que quer falar, gritar, existir. Mas, ao mesmo tempo, sente medo, angústia.

Elizabeth e Clarice, nessas obras, não falam e nem entram, mas são carne. Figuras imóveis, de presenças marcantes, ao mesmo tempo que distantes. atentas. alertas. Elizabeth ocupa, mas é Alma quem fala; Clarice escreve, mas é Ângela quem sente.


Um ensaio sobre o desamparo e a tênue fronteira entre eu e o outro. Clarice e Bergman sabem que desmontar personagem não é simples. Mas talvez ao reconhecê-lo como defesa e não destino, algo mais verdadeiro possa emergir. Não como verdade total, mas uma fresta. Uma abertura para existir.

 
 
 

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